Foto: Ale Silva/Folhapress.
Publicado originalmente no site da Revista Veja, em 4 dez
2016.
‘Se me ama, me deixa ir em paz’, disse Gullar à esposa.
Mulher do poeta, Claudia Ahinsa relatou que Gullar pediu
para que não fosse entubado após ter complicações em decorrência de uma
pneumonia.
Por Da redação.
O poeta Ferreira Gullar, ao sentir seu quadro de saúde se
agravar por causa de uma pneumonia, pediu à mulher, a também poeta Claudia
Ahinsa, para não sofrer intervenções que prolongassem sua agonia. A alternativa
dos médicos era que ele fosse entubado.
“Se você me ama, não deixa fazerem nada comigo. Me deixe ir
em paz. Eu quero ir em paz”, pediu àquela que era sua companheira havia 22
anos. “Foi uma decisão muito dura para nós, para a família e para mim. Mas era
o que tinha de ser feito”, disse Claudia, muito emocionada.
Gullar sentiu-se mal na madrugada de 9 de novembro. Com
intensa falta de ar, foi levado para o Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro.
Os médicos diagnosticaram pneumotórax, a entrada de ar na pleura, a fina camada
que recobre os pulmões. O problema era um reflexo do seu tempo de fumante,
ainda que estivesse livre do cigarro há mais de 30 anos.
O ar na pleura comprime o pulmão e o faz murchar. Nos 25
dias de internação, os médicos trataram a lesão na pleura. Instalaram um dreno,
para a retirada do ar. E esperavam o pulmão expandir para liberá-lo. “Estava
tudo dando certo. A pleura estava fechando, o pulmão estava expandindo. Eles
tirariam o dreno nos próximos dias e ele já receberia alta”, conta Claudia.
A esposa diz que o marido tinha boa saúde. “No domingo, três
dias antes da internação, tínhamos ido ao cinema, passeado. Não tinha nada no
coração, indisposição para nada. Essas doenças são silenciosas”, afirmou.
O casal imaginava que a internação seria curta. Preferiu não
alarmar os amigos. Com o passar das semanas, Claudia começou a contar a um e
outro sobre a internação. Nas primeiras semanas, Gullar escreveu de próprio
punho a crônica semanal publicada no jornal Folha de S. Paulo. Depois, com o
agravamento do quadro, passou a ditar o texto para a mulher. “Ele era poesia
pura. A poesia está aí. A obra vai ficar”, afirmou.
Gullar será velado na Biblioteca Nacional a partir das 17
horas deste domingo. Pela manhã, haverá um cortejo até a Academia Brasileira de
Letras. O poeta será enterrado à tarde, no Mausoléu da ABL, no Cemitério São
João Batista.
(Com Estadão Conteúdo).
Texto e imagem reproduzidos do site: veja.abril.com.br
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