Ação de prostituta em rua da Orla de Atalaia, uma das áreas
mais procuradas. Moradores e empresários reclamam muito.
Travesti em negociação com cliente no centro de Aracaju.
Na Atalaia a cena se repete.
Publicado originalmente no site do Jornal do Dia, em 20/10/2013
A prostituição toma as ruas.
Por Milton Alves Júnior.
Para muitos, o que é considerado dinheiro fácil e rápido,
para outros representa humilhação, desespero e falta de oportunidade de
trabalho com carteira assinada. A prostituição no Estado de Sergipe, ao longo
dos últimos cinco anos, vem apresentando aumento na 'oferta' e real
vulnerabilidade para os profissionais do sexo que muitas vezes se deslocam de
diversos estados das regiões Norte-Nordeste em direção à Grande Aracaju.
Considerada rota de exploração sexual, inclusive de menores de idade, a menor
unidade federativa passa a enfrentar outro problema: as drogas. No último mês
de junho denúncias anônimas levaram a Polícia Civil e Ministério Público
Estadual a investigar casas de prostituição. Em vários estabelecimentos foram
encontrados pinos/bags de cocaína, pedras de crack e quilos de maconha.
Com a interdição desses locais, as comerciantes do corpo nu
passaram a ocupar com maior frequência, normalidade e persistência as ruas do
Centro de Aracaju e ruelas do bairro Atalaia, onde diariamente são procuradas
por nativos e principalmente turistas em busca de 'diversão'. Esses termos
utilizados nessa reportagem são usados pelas próprias prostitutas que 'tiram' o
sossego dos moradores da região. Bate-bocas e até ameaça de morte são
constantes nessas duas regiões.
Dizendo-se vítima da própria sociedade capitalista, a baiana
Lidyane Aguiar disse ter segundo grau completo, mas que as oportunidades de
emprego que lhe eram ofertadas geralmente não passavam de salário mínimo.
"Quase que três vezes ao mês eu subo pra Aracaju na tentativa de ganhar um
dinheirinho extra. Nem sempre a viagem é lucrativa como de costume, mas uma
coisa é certa, rende muito mais, diria até oito vezes mais daqueles que estão
em uma sala com ar-condicionado. Se é um jeito digno de faturar, isso só quem
pode dizer sou eu", disse.
Assumida usuária de cocaína, ela disse já ter provado de
diversos tipos de entorpecentes, mas o 'branco/pó' e o whisky seriam suas
preferências. "Pra aguentar esse rojão, só com alguma química. Sei que
estou me destruindo, mas assim como muitas, a minha ideia é parar com essa vida
depois da copa, daqui até lá quero engordar a minha conta", pontuou.
Conhecida popularmente como a cracolândia da capital, o
Centro da cidade a partir das 23h se transforma em um ponto de intenso tráfico
de drogas e prostituição praticada por mulheres, travestis e adolescentes com
idades que variam entre 13 e 18 anos. Sempre acompanhados por agentes que
negociam os programas, os protagonistas do sexo entram e saem dos carros sem
nenhum tipo de fiscalização por parte do poder público. Para os frequentadores,
nas vias públicas onde o crack reina, raros são os guardas municipais ou homens
da Polícia Militar que se arriscam em abordar e prender os meliantes.
Segundo um dos travestis que preferiu não ter o nome e
imagem revelada, as rondas policiais são raras. "Quando isso acontece, com
a gente não tem nada. Primeiro porque aquelas (prostitutas/travestis) que usam
drogas geralmente são usuárias e possuem pouca quantidade, segundo porque
estamos trabalhando assim como eles também. Cada um no seu cada qual. Já os
vendedores de drogas e menores, esses sim acabam apanhando e muitas vezes
presos", relatou.
Mapeamento - Conforme dados do Mapeamento de Pontos
Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias
Federais Brasileiras, as rodovias sergipanas aparecem com aproximadamente 11
locais considerados suspeitos. Na lista publicada no primeiro semestre desse
ano surgem os municípios de Malhada dos Bois, Laranjeiras, Nossa Senhora do
Socorro, Itaporanga D'Ajuda, Estância, Umbaúba, Cristinápolis e Itabaiana.
Foi a partir desses dados e das denúncias anônimas, citadas
no inicio da matéria, que levaram o Departamento de Atendimento aos Grupos
Vulneráveis (DAGV) a realizar uma operação especializada em locais destinados a
encontros sexuais. As abordagens foram promovidas em estabelecimentos
localizados também nos bairros América, Coroa do Meio e Siqueira Campos, em
Aracaju. Já no interior de Sergipe, a operação se concentrou no povoado Cruz
das Donzelas, em Malhada dos Bois, e em algumas cidades da região. Desde essa
ação, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP/SE) garante estar
trabalhando diariamente na tentativa de evitar que os crimes permaneçam sendo
ocorridos. A Delegacia da Mulher e o Departamento de Narcóticos da Polícia
Civil (Denarc), também integram as investigações.
Em entrevista exclusiva concedida ao Jornal do Dia, Maria
Niziana Castelino, a Candelária, presidente da Associação das Prostitutas de
Sergipe (ASP), disse estar cansada e sem boas perspectivas para o progresso e
qualificação das profissionais do sexo. Realizando trabalhos preventivos e
educacionais em oito municípios, mais a capital, a ASP foi fundada em 1987 e
registrada três anos depois.
Mostrando-se contrariada com a falta de união das próprias
associadas, Candelária desabafou: "Não tenho mais idade para ficar
enfrentando policial que agride prostituta. Infelizmente, o que mais me deixa
triste é saber que elas mesmas só me procuram quando precisam de ajuda. Estamos
dispostas para realizar palestras e acompanhamento médico, mas muitas só estão
interessadas em usar drogas, bebidas alcoólicas e ganhar dinheiro com os
programas", disse.
Ainda de acordo com a presidente, a respectiva idade venceu
o desejo de mudança. "Não tenho mais idade pra continuar lutando pelo bem
estar das garotas que trabalham aqui no Estado. Já conseguimos muito, inclusive
o respeito dos policiais que nos atende na plantonista e DAGV. A falta de uma
pessoa pra me ajudar nessa batalha fez com que o futuro das prostitutas aqui fique
cada vez mais obscuro".
Texto e imagens reproduzidos do site: jornaldodiase.com.br
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