Crise de imigração na Europa
"Meus filhos escaparam das minhas mãos", diz pai
de garoto sírio que se afogou
Do UOL, em São Paulo, 03/09/2015.
O sírio Abdullah Kurdi, o pai do garoto de três anos Aylan
Kurdi, que morreu afogado ao tentar chegar à Grécia na quarta-feira (2),
relatou nesta quinta como ocorreu o acidente com o barco que afundou no Mar
Egeu próximo às praias de Bodrum, na Turquia.
Uma fotografia do corpo do menino, vestindo uma camiseta
vermelha e bermuda, com o rosto afundado na areia, viralizou pelas redes
sociais no mundo todo na quarta-feira (2), gerando indignação pela falta de
ação de países desenvolvidos na ajuda a refugiados.
Abdullah foi o único sobrevivente da família Kurdi. O irmão
de Aylan, Galip, de 5 anos, e sua mãe, Rehan, de 35, também estão entre as ao
menos 12 pessoas, incluindo outras crianças, que morreram depois que dois
barcos colidiram enquanto tentavam chegar à ilha grega de Kos.
Em declaração à polícia obtida pela imprensa turca, Abdullah
disse que pagou duas vezes a traficantes para levar ele e sua família à Grécia,
mas as tentativas falharam. Ele então decidiu encontrar um barco e remar
sozinho, mas a embarcação começou a encher de água e virou quando as pessoas
entraram em pânico.
"Eu estava segurando a mão de minha esposa. Mas meus
filhos escaparam das minhas mãos. Tentamos nos segurar no barco, mas ele estava
esvaziando. Todos estavam gritando no escuro. Não consegui fazer com que minha
voz fosse ouvida por minha esposa e filhos", disse ele.
Apelo
"Queremos a atenção do mundo sobre nós, para prevenir
que isto aconteça com outros. Que esta seja a última vez", declarou
Abdullah. "Quero que o mundo inteiro nos escute e veja aonde chegamos
tentando escapar da guerra. Vivo um grande sofrimento. Faço esta declaração
para evitar que outras pessoas vivam o mesmo."
De acordo com Abdullah, 16 membros da família que combatiam
o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) morreram em Kobani, palco de
enfrentamento entre os extremistas e as forças curdas, onde os Kurdi moravam.
Seu desejo agora é enterrar sua esposa e os dois filhos ao lado dos parentes e
não sair mais da Síria.
"Recebi uma oferta do governo do Canadá para morar lá,
mas depois do que aconteceu não quero ir. Vou levá-los primeiro a Suruç [cidade
turca na fronteira com a Síria] e depois a Kobani, na Síria. Passarei o resto
da minha vida lá", contou. "Só quero ver meus filhos pela última vez
e ficar para sempre com eles."""
Antes da tragédia, os Kurdi planejavam pedir asilo no
Canadá, onde vivem parentes da família.
Teema Kurdi, tia dos meninos que vive na cidade canadense de
Vancouver, disse ao jornal "National Post" que vinha tentando
conseguir uma travessia mais segura para os parentes. Contou que vinha
financiando a estadia deles na Turquia, mas que Abdullah tinha decidido entrar
como refugiado na Europa por conta da situação precária em que estariam
vivendo.
Suspeitos presos.
A polícia da Turquia deteve nesta quinta-feira quatro sírios
suspeitos de tráfico de pessoas. Eles seriam os organizadores da viagem do
barco que naufragou no Mar Egeu perto do balneário turco de Bodrum. (Com
agências internacionais)
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