Publicado originalmente na Revista Brasileiros n.97
Agosto/2015.
Conjunção infeliz
Por Hélio Campos Mello.
Operários, tela emblemática que Tarsila do Amaral pintou em
1933, abre a reportagem de capa da Brasileiros de agosto. O assunto é a crise
político-econômica que o Brasil atravessa e que, entre outras más notícias, já
levou o desemprego para a casa dos oito milhões.
A nefasta conjunção de um governo que não governa – ameaçado
de impeachment pelas suas contas no TCU e no TSE e portador de aprovação
popular minguante – com uma oposição exacerbada e predadora, está jogando no
lixo conquistas sociais fundamentais dos últimos anos.
Atemorizada com as ameaças de rebaixamento no ranking de
investimento das agências de risco e pressionada pelo mercado, a presidenta
Dilma fez correções de rumo na economia que têm se mostrado, no mínimo,
desastradas.
Para Pedro Celestino, candidato de consenso à presidência do
influente Clube de Engenharia, o “ajuste fiscal sem crescimento não funciona.
Não há possibilidade de arrumar a economia com elevação da taxa de juros
absurda e com aumento da carga fiscal também absurda. Essa é a receita do
desastre”.
No vácuo deixado pelos poderes Executivo e Legislativo,
cresceu desmesuradamente o Poder Judiciário. A corrupção entrou na mira, o que
é bom – melhor se não houvesse o viés político e seletivo –, mas o País parou,
o que é péssimo. Não se pensou em como manter empregos e contratos nas empresas
investigadas. Elas compõem a indústria responsável por parcela significativa do
PIB. Na Alemanha, em 2007, a Siemens também foi acusada de corrupção e as
providências lá tomadas deveriam servir de exemplo para o Brasil – multas
bilionárias, demissões dos diretores e eventuais prisões dos culpados, mas a
empresa continuou o seu trabalho com seus contratos, empregos e competitividade
preservados. Aqui, nosso protagonismo internacional vai rapidamente se
esvaindo. O País parece estar sob ataque.
Isso tudo causa profunda perplexidade. Principalmente em
quem não foi infectado pelo vírus do ódio e da intolerância que se espalha. O
que também é digno de profundo espanto.
Um entendimento foi ensaiado entre governo e oposição –
tarde, diga-se, pois já devia ter sido feito quando, tanto PSDB como PT tinham
os melhores quadros da política brasileira, coisa que já não acontece –, mas
foi abortado por vazamentos à imprensa. Mesmo assim, novas tentativas devem ser
feitas.
Hoje, o Brasil está menos alegre. Como os rostos da obra de
Tarsila.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasileiros.com.br
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