Publicado originalmente no site da Carta Capital, em
09/02/2015.
Ainda dá tempo?
O Brasil vive um momento sombrio de extrema gravidade e
Dilma tem de agir depressa para evitar o pior.
Por Mino Carta.
A torre de babel, emblema de uma ciclópica confusão, vale
como metáfora da situação do Brasil neste exato instante. Vejamos. O PT em
frangalhos a amargar uma monumental derrota parlamentar que entrega ao PMDB o
comando do Congresso, com risco imponente para a continuidade do governo de
Dilma Rousseff. O PSDB de Fernando Henrique a adubar a ideia do golpe via
impeachment. O ajuste fiscal em pleno andamento com a tola promessa de ser
pequeno enquanto o desemprego cresce e a recessão bate às portas. A Petrobras
em crise aguda enquanto o juiz Moro estende o raio de ação da Operação Lava
Jato em busca do epicentro da corrupção além das fronteiras da empresa
petrolífera, nas próprias entranhas do poder. A iminência do drástico
racionamento da água em São Paulo, ao passo que outros pontos cruciais sofrem a
ameaça de serem logo engolidos pela calamidade. E a crise energética próxima da
eclosão.
No que diz respeito às perspectivas na maior metrópole
brasileira, atingida pela falta d’água, talvez sirva recorrer, para figurá-las,
o cenário de certos filmes de Hollywood que pretendem retratar um mundo do
futuro a viver o colapso ao arrepio do sacrifício da vida civilizada. Nas
trevas movem-se chusmas em andrajos e desespero, mata-se por um copo d’água,
enquanto os ricaços vão tomar banho em Dubai. Sem insistir na versão
hollywoodiana, observo que muitos não conseguem dar-se conta do que acontecerá
quando, quatro dias por semana não haverá torneira para exibir serventia.
Melhor evitar detalhes que infelizmente me ocorrem, a bem da boa digestão, ao
menos por ora. Temo, de todo modo, pelas repercussões internacionais, nutridas
por relatos apocalípticos, em detrimento de um Brasil em queda nas cotações
mundiais.
A presidenta age tardiamente ao exonerar a diretoria da
Petrobras em peso. De fato, poderia ter tomado a decisão logo após a eleição,
de sorte a evitar um desgaste ulterior. Passado pouco mais de um mês desde a
posse, o governo parece carregar nos ombros a maldição de um longo percurso
medíocre, quando não francamente malsucedido. Houvesse uma pesquisa, e fácil
imaginá-la negativa para a presidenta. De agora em diante, ela não pode mais
errar e sua chance é de tempo curto e ação imediata.
É o prazo mínimo que lhe resta para mostrar a que veio e de
garantir um lugar honroso na história do País. Há medidas que se impõem a
partir de algumas considerações inescapáveis. Por exemplo, por que, para
favorecer a exportação, seria indispensável elevar o câmbio do dólar? Onde está
a divindade da economia que se abala a estabelecer a conveniência de se pagarem
3 reais por uma verdinha? Os problemas da exportação não decorrem da cotação da
moeda americana e sim da falta de mercados para produtos brasileiros. Até a
China passa por apertos em matéria de exportação dos seus produtos a preço
ínfimo, até ontem açambarcadores de mercados.
Claro está que uma política de eficácia impensada poderia
ser a de financiar países africanos, digamos, na compra de nossos produtos, ou
para a realização de obras em seus territórios, e com isso ganhar a preciosa
condição de credor. Mas há uma oportunidade escancarada oferecida pelo destino
e pela natureza, conforme observa quem sabe das coisas. O Brasil tem a
possibilidade de multiplicar o mercado interno, na esteira do que se deu
durante o governo de Lula e nos começos do primeiro mandato de Dilma.
Trata-se de habilitar ao consumo as classes menos
favorecidas por caminhos já percorridos pelo Bolsa Família e pela abertura do
crédito, e, ao mesmo tempo, a favor do emprego, lançar planos de
desenvolvimento, à sombra do PAC, ou novos em folha, para ampliar e melhorar a
infraestrutura carente, como, de resto, demonstram as crises atuais. Se o
Brasil não escapa à alternativa de crescer ou crescer, um projeto keynesiano há
de ser posto em prática de pronto. Nada melhor se a presidenta o assumir sem
hesitações, a sublinhar, talvez, sua importância vital com um discurso à Nação.
As iminentes consequências das crises hídrica e energética
produzirão tensões inéditas e altamente daninhas, daí a urgência de uma reação
vigorosa. Trata-se de corrigir a rota que leva ao desastre final, do qual, a
esta altura, ninguém escaparia, os predadores e suas vítimas, os incompetentes
irresponsáveis e o povo ignaro.
Texto e imagens reproduzidos do site: cartacapital.com.br
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