Um AK-47 na nuca da liberdade de expressão.
Por Hélio Gomes.
Um dia amargo, meu caro.
Um dia muito amargo para todos nós, que trabalhamos e
passamos nossos dias na frigideira da notícia em tempo real, um dos lugares
mais tensos desta arena digital na qual coexistimos com você, caro leitor, e
despejamos nossas palavras, histórias e opiniões.
Claro que falo do atentado terrorista à sede da revista
francesa Charlie Hebdo, fato que chacoalhou todas as redações do planeta e que
deveria mexer com qualquer profissional que já deu seus pitacos acerca da vida
alheia – seja ele um crítico gastronômico, um colunista político ou alguém que
foi ao show de uma funkeira e depois teve de escrever uma resenha a respeito do
que testemunhou.
Detonar é fácil, dizem. E sempre há a próxima crítica. Ou a
próxima charge.
Confesso que, ao mesmo tempo em que cumpríamos a missão de
trazer todas as notícias sobre o que estava rolando no coração da Europa, minha
mente entrou em modo rewind. Jaguar e Henfil. As charges da New Yorker e da
Playboy. Glauco, Laerte e Angeli. Chiclete dom Banana e O Planeta Diário. É
certo que eu não seria o mesmo sujeito sem a ironia, as sacadas e a opinião
desses caras.
Gratidão eterna.
Volto ao presente e a cena dos terroristas entrando na
redação da revista Charlie Hebdo, armados até os dentes e chamando suas vítimas
uma a uma, pelo nome, me deixa arrasado.
Apesar de tudo, vamos em frente.
Agora, só nos resta aprender com o legado deixado por
Stephane Charbonnier, a.k.a. Charb, editor chefe da publicação francesa e um
dos mortos na manhã desta quarta. “Não culpo os muçulmanos por não acharem
graça nos meus desenhos. Mas eu vivo sob as leis francesas, e não sob as leis
do Corão”, disse o cartunista em uma entrevista à agência de notícias AP em
2012.
Um legado questionável, diga-se, com resquícios de
intolerância, preconceito e provocação gratuita. Mas que precisa entrar para a
História como uma triste lembrança da importância da diversidade de opinião.
Texto reproduzida do site: terra.com.br
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