quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Um AK-47 na nuca da liberdade de expressão.


Um AK-47 na nuca da liberdade de expressão.

Por Hélio Gomes.

Um dia amargo, meu caro.

Um dia muito amargo para todos nós, que trabalhamos e passamos nossos dias na frigideira da notícia em tempo real, um dos lugares mais tensos desta arena digital na qual coexistimos com você, caro leitor, e despejamos nossas palavras, histórias e opiniões.

Claro que falo do atentado terrorista à sede da revista francesa Charlie Hebdo, fato que chacoalhou todas as redações do planeta e que deveria mexer com qualquer profissional que já deu seus pitacos acerca da vida alheia – seja ele um crítico gastronômico, um colunista político ou alguém que foi ao show de uma funkeira e depois teve de escrever uma resenha a respeito do que testemunhou.

Detonar é fácil, dizem. E sempre há a próxima crítica. Ou a próxima charge.

Confesso que, ao mesmo tempo em que cumpríamos a missão de trazer todas as notícias sobre o que estava rolando no coração da Europa, minha mente entrou em modo rewind. Jaguar e Henfil. As charges da New Yorker e da Playboy. Glauco, Laerte e Angeli. Chiclete dom Banana e O Planeta Diário. É certo que eu não seria o mesmo sujeito sem a ironia, as sacadas e a opinião desses caras. 

Gratidão eterna.

Volto ao presente e a cena dos terroristas entrando na redação da revista Charlie Hebdo, armados até os dentes e chamando suas vítimas uma a uma, pelo nome, me deixa arrasado.

Apesar de tudo, vamos em frente.

Agora, só nos resta aprender com o legado deixado por Stephane Charbonnier, a.k.a. Charb, editor chefe da publicação francesa e um dos mortos na manhã desta quarta. “Não culpo os muçulmanos por não acharem graça nos meus desenhos. Mas eu vivo sob as leis francesas, e não sob as leis do Corão”, disse o cartunista em uma entrevista à agência de notícias AP em 2012.

Um legado questionável, diga-se, com resquícios de intolerância, preconceito e provocação gratuita. Mas que precisa entrar para a História como uma triste lembrança da importância da diversidade de opinião.

Texto reproduzida do site: terra.com.br

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