A democracia não estava lá.
A internet e as redes sociais pareciam maduras para as
eleições. Mas nós não.
Por Bia Granja*
Logo depois da Copa veio o momento da verdadeira decisão
para o país: as eleições! Todo mundo se empolgou: esse seria o primeiro pleito
em que o Facebook é quase onipresente em todas as camadas da sociedade, os smartphones
estão espalhados pelo país e os planos de dados estão cada vez mais baratos.
O que aconteceria na eleição mais digital que este país já
viu?
Os otimistas vislumbraram redes sociais lotadas de
discussões saudáveis. Só mesmo a internet, que é de todos, poderia fazer com
que as pessoas exercitassem sua democracia em sua potencia máxima e sem
censura.
Só ela teria força para tirar o brasileiro de sua alienação
política. As eleições de 2014 seriam o corolário perfeito pra esse processo
incrível que começou no ano passado e que poderia nos tirar de uma vez por
todas da inércia política.
As eleições vieram, as eleições foram e a democracia que
tanto dissemos que ia praticar não aconteceu da maneira como esperávamos.
Disseram que 2010 seria o ano da campanha online. Não foi! Daí disseram que
seria dois anos depois. Nada! A maioria dos candidatos apenas reproduziu no
online aquela coisa chata, intrusiva e hermética das campanhas offline. Neste
ano esperávamos que as redes estivessem suficientemente maduras pra que tanto
os candidatos quanto seus eleitores promovessem debates produtivos — mas também
não rolou.
Que a internet teve papel importantíssimo na formação de
opinião política das pessoas ninguém questiona. Mas o que poderia ter sido um
marco importante no exercício da cidadania do brasileiro se transformou em um
evento traumático pra praticamente todas as pessoas que ousaram tocar no
assunto “política” nas redes sociais.
Fui obrigada a deletar um post do Facebook depois de
declarar meus votos. E isso não foi exclusividade do meu perfil. A ferramenta
que serviria para que a diversidade de opiniões se encontrasse virou uma
central de ofensas, compartilhamento de desinformação e acusações.
Não podemos culpar a internet pela nossa falta de
consciência política e prática democrática. Nem os candidatos, que deveriam
estar discutindo propostas, conseguiram deixar de transformar seus debates
oficiais em um grande circo. O exercício democrático no Brasil ainda é muito
novo. E a conclusão a que cheguei é que as redes sociais estavam maduras, mas
nós não.
* Founder e curadora do youPIX e co-curadora da Campus Party
Brasil. Seu trabalho busca entender como os jovens brasileiros usam a rede para
se expressar e criar movimentos culturais.
Texto reproduzido do site: revistagalileu.globo.com
Foto reproduzida do site lajesnewsrn.blogspot
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