sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A democracia não estava lá.


A democracia não estava lá.

A internet e as redes sociais pareciam maduras para as eleições. Mas nós não.

Por Bia Granja*

Logo depois da Copa veio o momento da verdadeira decisão para o país: as eleições! Todo mundo se empolgou: esse seria o primeiro pleito em que o Facebook é quase onipresente em todas as camadas da sociedade, os smartphones estão espalhados pelo país e os planos de dados estão cada vez mais baratos.

O que aconteceria na eleição mais digital que este país já viu?

Os otimistas vislumbraram redes sociais lotadas de discussões saudáveis. Só mesmo a internet, que é de todos, poderia fazer com que as pessoas exercitassem sua democracia em sua potencia máxima e sem censura.

Só ela teria força para tirar o brasileiro de sua alienação política. As eleições de 2014 seriam o corolário perfeito pra esse processo incrível que começou no ano passado e que poderia nos tirar de uma vez por todas da inércia política.

As eleições vieram, as eleições foram e a democracia que tanto dissemos que ia praticar não aconteceu da maneira como esperávamos. Disseram que 2010 seria o ano da campanha online. Não foi! Daí disseram que seria dois anos depois. Nada! A maioria dos candidatos apenas reproduziu no online aquela coisa chata, intrusiva e hermética das campanhas offline. Neste ano esperávamos que as redes estivessem suficientemente maduras pra que tanto os candidatos quanto seus eleitores promovessem debates produtivos — mas também não rolou.

Que a internet teve papel importantíssimo na formação de opinião política das pessoas ninguém questiona. Mas o que poderia ter sido um marco importante no exercício da cidadania do brasileiro se transformou em um evento traumático pra praticamente todas as pessoas que ousaram tocar no assunto “política” nas redes sociais.

Fui obrigada a deletar um post do Facebook depois de declarar meus votos. E isso não foi exclusividade do meu perfil. A ferramenta que serviria para que a diversidade de opiniões se encontrasse virou uma central de ofensas, compartilhamento de desinformação e acusações.

Não podemos culpar a internet pela nossa falta de consciência política e prática democrática. Nem os candidatos, que deveriam estar discutindo propostas, conseguiram deixar de transformar seus debates oficiais em um grande circo. O exercício democrático no Brasil ainda é muito novo. E a conclusão a que cheguei é que as redes sociais estavam maduras, mas nós não.

* Founder e curadora do youPIX e co-curadora da Campus Party Brasil. Seu trabalho busca entender como os jovens brasileiros usam a rede para se expressar e criar movimentos culturais.

Texto reproduzido do site: revistagalileu.globo.com
Foto reproduzida do site lajesnewsrn.blogspot

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