Publicado originalmente na Coluna Ancelmo Gois.
Tragédia na Campanha.
‘Com tanto FDP por aí, por que morre logo Eduardo
Campos?" Essa foi a primeira reação de uma pessoa ao meu lado no momento
em que chegou a notícia da tragédia que vitimou o jovem político pernambucano
aos 49 anos. Logo depois, o mesmo desabafo explodiu nas redes sociais, com a
insensatez que o meio oferece, agregando comentários do tipo “Por que não foi o
fulano que morreu?”, citando esse ou aquele político asqueroso.
O mesmo tipo de raciocínio ferino eu ouvi bastante em
dezembro do ano passado, quando, depois de lutar contra um câncer havia quatro
anos, morreu Marcelo Deda, 53 anos, governador de Sergipe. Deda, a exemplo de
Campos, era uma vocação rara, nestes tempos de estiagem de política de brilho e
decência.
É aí que eu quero chegar. Além da tragédia pessoal, morreu
um jovem promissor em sua profissão, pai de cinco filhos, um deles com síndrome
de Down, há uma tragédia política colossal. Campos e Deda representavam, com
seus defeitos — que nos momentos de consternação são empurrados para debaixo do
tapete —, exceção num quadro caquético de homens públicos, notadamente na
Câmara e no Senado.
Quem assiste — mesmo pela TV em noites de insônia — a uma
sessão da Câmara ou do Senado sabe do que estou falando. Esta geração nova de
políticos, com exceções, claro, é formada por uma breguice sem limites, gente
mais preocupada em implantar cabelos na cabeça do que ideias. O Senado virou
uma grande Câmara de Vereadores, com suas excelências mais preocupadas com o
buraco da rua de sua cidade do que com o que as ruas pensam sobre o futuro da
nação. A Câmara dos Deputados, sob a liderança do PMDB, é palco, muitas vezes,
de tenebrosas transações.
A família de Eduardo Campos está de luto. A política também,
que, apesar da certa cachorrada, é a forma mais civilizada que o homem
encontrou para gerir a sociedade.
Texto reproduzido do site: oglobo.globo.com/rio/ancelmo
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