quarta-feira, 9 de julho de 2014

Plínio de Arruda Sampaio (1930 - 2014)


Plínio de Arruda Sampaio morre, aos 83 anos, em São Paulo.
Por Tatiana Farah.

SÃO PAULO — O ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, de 83 anos, morreu na tarde desta terça-feira em São Paulo. Ele estava internado desde maio no hospital Sírio-Libanês para o tratamento de um câncer ósseo.

Segundo o filho mais velho do deputado, Francisco de Azevedo Arruda Sampaio, a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos, em decorrência de uma pneumonia, às 15h25. Hospitalizado há mais de um mês, o jurista e ex-deputado havia dado sinais de melhora há cerca de dez dias, deixando a UTI do Hospital Sírio Libanês e sendo transferido para a unidade de tratamento semi-intensivo. Plínio fazia tratamento contra um câncer ósseo recém-descoberto.

Políticos lamentam o falecimento de Plínio de Arruda Sampaio.

Até seus últimos dias, o socialista Plínio de Arruda Sampaio brigou com o cansaço e com os prognósticos. Aos 83 anos, depois de um mês no hospital devido a um câncer ósseo e já bastante debilitado, Plínio cobrou do filho Francisco: queria o livro “A people’s History of the World”, do qual fazia a tradução para o português. Queria trabalhar. Quando decidiu disputar a Presidência pelo PSOL em 2010, sabia que ficaria na lanterna, mas concorreu. Disse que o importante era defender os princípios, entre eles a “reforma agrária radical”. E foi justamente a reforma agrária, sua menina dos olhos, que lhe custou o exílio em 1964. Teve os direitos cassados no primeiro ato institucional do regime militar por ter sido o relator do programa agrário do presidente João Goulart. Mesmo perseguido por defender mudanças na política agrária, foi um dos fundadores, em 1967, e presidiu a Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), que reunia notáveis em torno do tema.

Em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, ele, que foi um dos fundadores do partido, não deixou a legenda. Resolveu concorrer à presidência petista. Só saiu depois que foi derrotado, dizendo que o PT não faria as mudanças de rumo que eram esperadas. Acreditava que nunca teria o espaço desejado no comando do partido do qual ajudou a escrever o estatuto.

— O PT saiu de mim. Ele começou sendo socialista, mas se desviou e tornou-se um partido capitalista — desabafou em uma entrevista.

Plínio, que militava desde os 15 anos próximo da Igreja Católica e dos movimentos sociais, ingressou ainda em 2005 no recém-lançado PSOL, do qual tornou-se um dos maiores dirigentes. Os princípios defendidos continuaram os mesmos que pouco repercutiam entre as tendências majoritárias do PT: reforma agrária radical, reforma urbana, taxação das grandes fortunas, controle sobre dimensão de propriedades rurais.

Dizia que era “o primeirão” a apoiar ocupações de terra do MST e, na questão urbana, passou a apoiar o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

Católico fervoroso, defendia o aborto e não via contradição nem temia discutir o tema em campanha:

— Sou um homem cristão, e, como cristão, sou contra o aborto. Mas como governante, se eu vier a ser, sou um homem público. Não posso impor a outras pessoas a minha convicção — disse Plínio ao GLOBO em 2010.

Plínio começou na política por meio da Juventude Universitária Católica nos anos 50, quando ingressou no Partido Democrata Cristão, partido pelo qual se elegeria deputado. Ainda era estudante da Faculdade de Direito do Largo São Francisco quando conheceu Marietta, com quem se casou em 1954 e teve seis filhos.

— Ele é antes de tudo um militante. Quando eu o conheci, dois anos antes, ele já era um militante e é isso até hoje —disse Marietta em uma entrevista à agência Carta Maior, quando o marido completou 80 anos.

O velho militante socialista não sentia o peso da idade. Em 2010, conheceu o Twitter e se apaixonou. Virou um tuiteiro contumaz, com milhares de seguidores. Não eram só suas ideias, mas a forma como tratava todos os assuntos com naturalidade e os adversários, ainda que amigos, com acidez.

Em sua campanha à Presidência, não poupou munição contra ex-aliados e amigos. Considerou o governo Lula “um desastre” e “frustrante”, chamou Dilma Rousseff de “fantoche de Lula”, disse que o governo Fernando Henrique Cardoso era “nefasto” e disparou contra a ex-companheira de partido Marina Silva, então candidata a presidente. Nem mesmo um de seus amigos mais próximos, o ex-governador José Serra, escapava:

— O problema do Serra é uma certa truculência no exercício da autoridade. O problema da Dilma é uma certa impostura. Em relação a Marina, é o fato de que ela, uma pessoa correta, de bem, demonstrou ser uma pessoa carreirista — disse, durante a campanha de 2010.

Plínio passou 12 anos no exílio, onde trabalhou para a Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO). Recebeu o dirigente estudantil Serra em sua casa nos Estados Unidos. Na época, os dois eram de esquerda. Questionado de por que sorria quando falava do amigo, Plínio disparou:

— Eu dou um pouco de risada por achar curioso, para mim é muito curioso ver o Serra numa posição conservadora. Eu o conheci numa posição de esquerda, avançada. Eu não consigo deixar de rir.

Foi na volta ao Brasil, em 1976, que Plínio se aproximou das lideranças que formariam o PT, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ajudou a construir o partido e foi, por ele, deputado constituinte, em 1985. Lula e Plínio disputaram juntos eleições e palanques, mas se afastaram desde que o PT ganhou a Presidência, em 2002. A situação só se complicou com a crise do mensalão e culminou com a saída de Plínio do partido.

A despeito de bandeiras partidárias, o senador petista Eduardo Suplicy manteve uma amizade forte com Plínio, a quem conhecia desde a adolescência. Nas últimas semanas foi encontrar a família Arruda Sampaio no hospital:

— Ele pediu para eu entrar no quarto porque queria me dar um abraço. Eu lembrei a ele de quando ele frequentava as reuniões que meus pais faziam pela Confederação das Famílias Cristãs. Quando eu fui eleito senador pela primeira vez, em 1990, ele era o candidato a governador de São Paulo. Ele foi um companheiro extraordinário. Era uma das pessoas que mais lutou pela construção de uma nação justa e, em ética, era muito rigoroso — disse Suplicy.

Plínio de Arruda Sampaio morreu na tarde de ontem no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em decorrência de falência de múltiplos órgãos e sistema, segundo nota. Ele será velado hoje na Igreja dos Dominicanos, no bairro das Perdizes. O enterro será as 13h, no cemitério do Araçá.

Texto reproduzido do site: oglobo.globo.com
Foto reproduzida do site: g1.globo.com

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