quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Fascínio das Bancas de Revistas & Jornais

Difícil é passar por uma e não entrar. Tudo começou com a Bomboniére Chic, administrada pelo saudoso Moacir, pessoa afável e educada. Ficava na Rua Laranjeiras, anexa ao Ponto Chic, (na época, famoso restaurante da cidade, onde hoje funciona a Delegacia do Ministério do Trabalho, na esquina com a Rua João Pessoa). Depois mudou-se para o primeiro trecho da Rua João Pessoa, no Calçadão, transferindo-se em seguida para a Rua Itabaiana, onde permaneceu até o seu fechamento. Considerada o ponto de encontro dos amantes da leitura, políticos e intelectuais, tinha sua maior frequência por volta das 16:30 h., quando chegavam os jornais do sul do país – isto quando não extraviavam, só chegando no outro dia. Nessa época o jornal de maior circulação era o Jornal do Brasil, acompanhado de O Globo e O Estado de S.Paulo e, por ocasião das diretas já, da Folha de S. Paulo, que começou a ter destaque no cenário editorial, pelo seu engajamento político, chegando a concorrer com o Jornal do Brasil em termos de aceitação. Um dos habitués da Chic era o Professor “Zé” Cruz, intelectual, muito conhecido dos Sergipanos, que dizia jamais fazer assinatura de um jornal, pois o prazer estava em ir pessoalmente pegar seu exemplar na Chic. Lá também poder-se-ia encontrar Erotildes, que brincava com quem comprava dois jornais, a Folha e o JB, e perguntava “como você vai ler tudo isso?”. Das revistas semanais da época, destacava-se O Cruzeiro já em seus últimos dias, massacrada pela sua concorrente imediata a revista Manchete, em seu auge, pois com a TV ainda precária e em preto e branco, o Sergipano via o Brasil e o Mundo pela Manchete, com suas fotos grandes e coloridas. Nas famílias, quando o pai chegava em casa com a revista, era uma disputa para ver quem ia ler primeiro. Por ocasião do carnaval era editada a Manchete Especial que fazia a alegria dos patriarcas da época, para ciúme das recatadas e pudicas esposas de nossa querida “barbosópoles”. Em 1968 surgia a revista semanal de texto - como era chamada - a Veja, que viria forçar o fim da revista Visão. Depois, outras surgiram como a Isto É e Afinal. Também se destacavam a Senhor e a Revista Geográfica Universal. Nesta época, uma revista de grande sucesso junto aos leitores foi Realidade, várias vezes apreendida pela censura, por ousadia de suas reportagens. Outra que sofreu muito com a falta de liberdade de expressão foi a Ele & Ela, revista de nus femininos, voltada para o público masculino, mas com textos muito bons sobre costumes e comportamento, educando muitos jovens em sua iniciação sexual, papel hoje feito pelas revistas voltadas ao público feminino, a exemplo da Cláudia. Na chic, pela manhã, encontrávamos os jornais locais: Gazeta de Sergipe de Orlando Dantas, Diário de Aracaju de Assis Chateaubriand, A Cruzada da Arquidiocese, Jornal da Semana de Hugo Costa, Tribuna de Aracaju de Ribeirinho, Jornal de Sergipe de Nazário Pimentel. Todas as bancas e lojas que vendiam revistas e jornais localizavam-se no centro da cidade, com a exceção da banca do Mini - Golfe. No centro, destacava-se a banca de Roberto que ficava em frente à Ponte do Imperador, sendo aos domingos ponto de encontro de amigos, mudando-se depois para a Pça. Fausto Cardoso. A Banca do Coelho, ficava em frente ao Cine Palace, na Rua João Pessoa, já Calçadão, pois quando da construção do mesmo, foram instaladas três bancas em cada trecho, todas padronizadas e feitas de vidro blindex. Uma banca muito visitada era a que ficava ao lado da Igreja São Salvador. Existia uma loja de revistas na rua Itabaianinha, próximo ao Cinema Vitória, que fazia parte do programa, ir ao cinema e na volta passar na mesma. Em formato de corredor, as revistas eram empilhadas, facilitando muito a escolha e manuseio. Surgiram depois as bancas da Livraria Regina, espaçosas e organizadas, que se espalharam por todo o centro. A mais famosa era a que ficava na Rua Laranjeiras, chegando à Rua da Frente. Nessa época as coleções de fascículos eram uma febre,como “A História do Século 20” e a “Enciclopédia Universo”, que, depois de completadas a coleção, eram entregues lá mesmo para encadernar. Hoje, as bancas encontram-se espalhadas por toda a cidade, oferecendo grande diversidade de editoras e revistas segmentadas, apesar da redução das tiragens, causadas pela opção da internet, forçando-as à uma adaptação ao novo tempo sem, contudo, deixar de exercer o fascínio ante o prazer de uma boa leitura.

Armando Maynard

4 comentários:

  1. Tudo começa com uma Bomboniére e em se tratando de uma cidade Chic, ainda mais. Saudades de Aracajú!;-)

    Um abraço Armando.

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  2. Você tem acertado em cheio com seus posts. Me lembrei de um fato ocorrido quando eu tinha por volta de uns 10 anos, por aí. Sempre fui fascinada por bancas de jornais e revistas. Recolhia as revistas importadas da minha tia, entre outras doações e montava minha barraquinha na rua, em frente ao prédio onde morava, em Copacabana. E vendia. Era um prazer louco. Não satisfeita, fiz amizade com o jornaleiro da esquina e pedi para trabalhar com ele...:) Ele me aceitou e eu estava fascinada lá dentro daquele caixote, com todas aquelas revistas e jornais ao meu alcance. As horas passaram e não me dei conta. Minha mãe desesperada em casa, sem saber onde eu estava. Meu pai me achou lá. E teve que rir....Escapei da surra....:)

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  3. Bem, eu nem vou falar da Veja. Essa eu passo direto. A Realidade e Manchete são publicações ótimas. O Cruzeiro e o Correi da manhã fazem falta. O JB tá caidinho tadinho. Uma pena. O Globo leio sempre (não quer dizer que eu concorde com tudo) e os jornais de SP são diferentes... Os do Rio se focam mais para um lado do que os de SP. Não questionando a qualidade de nenhum deles. Em SP eu prefiro a Folha, acho um jornal mais completo. E eu não sabia que os impressos daqui tinham tanta importância aí... Inocência minha mesmo sendo de jornalismo. Mas é bom eu aprender essas coisas. E concordo... Não há nada melhor do que ir a uma banca de jornal. Eu adoro.

    Abração!!!

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  4. eu amo livrarias e bancas de revista, pena que sou nova e quando chego para comprar um Folha de SP, o atendente estranha e pergunta se é para o meu pai, mas ainda quero fazer amizades com os amantes de jornal!
    [obrigado por seguir meu blog]

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