segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Muita Informação e Pouco Tempo Para Pensar



Lembro de meu pai a contar que, na década de quarenta, quando morava em uma cidade do interior, só havia um meio para se ter alguma informação e conhecimento: a escola local e seu tradicional ensino. O único meio de se ficar sabendo de alguma notícia com rapidez, era o rádio, que até os nossos dias se mantém como um meio de informação imediatista. Mas, duas dificuldades tiveram que ser superadas, a da aquisição motivada pelo preço e a outra da falta de energia elétrica na cidade. Só ao anoitecer, por meio de um motor, se tinha energia até as 22 horas. Por isso, meu pai teve a idéia, com ajuda de um técnico amigo, de construir um rádio galena, feito de bobina, que não precisava de energia para funcionar. Tempos depois, ele conseguiu adquirir um rádio de válvulas, que funcionava com energia gerada por uma bateria de carro. Foi nesse rádio que ele acompanhou as notícias da segunda guerra mundial. Outro meio de informação era o único cinema da cidade e seu serviço de auto-falante. O Cinema exibia em suas seções, velhos cine-jornais e documentários. Algum tempo depois, parentes e amigos traziam da capital, a revista “O Cruzeiro”. Hoje vivemos a era da informação, com uma profusão de veículos de comunicação, impressos e audiovisuais, todos com conteúdos diversificados, abrangendo cultura, entretenimento e farto noticiário. Podemos escolher entre byte (digital) ou átomo (papel), ou um só meio, que é o computador através da internet, esta ferramenta mágica, inimaginável há poucos anos atrás. Com um simples clique, temos a nossa disposição: uma gráfica, banca de revistas e jornais, biblioteca, fotocópia, fax, correio, rádio, cinema, televisão, telefone, videofone. Só que “tudo demais é sobra” e termina fazendo mal a nossa saúde. Muitos de nós chegamos a ficar ansiosos e angustiados ao vermos uma pilha de jornais, revistas e livros se acumulando em nossa mesa, sem que tenhamos tempo de ler, somados a uma grande quantidade de e-mails, esperando serem respondidos, blogs de serem atualizados e acessados para serem comentados, sites diversos a serem consultados, filmes que vão entrando e saindo dos cinemas e não assistimos, fora os da TV de assinatura e DVDs. Tudo isso termina fazendo com que não tenhamos tempo para pensar, refletir e assimilar o que lemos e vemos, até por ser tudo muito rápido e superficial, sem um conhecimento aprofundado, não se chegando a ter uma idéia formada, com risco de se ficar repetindo a mesma opinião de muitos, sem ter tempo de formar a sua própria.
Armando Maynard

3 comentários:

  1. Sua crônica "Muita informação e pouco tempo para pensar", tão bem retratando a realidade, levou-me aos anos 40, quando, morando no interior de São Joaquim-SC, o único meio de contato com mundo era um grande rádio de válvulas, ainda com um interessante olho mágico. A recepção, precária, era melhorada com uma comprida antena de fios de cobre descobertos. Parabéns, bela crônica.

    Um abraço do
    Tio Ruja

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  2. Armando, muito legal o que escreveu por aqui, no primeiro post, logo virei aos poucos, para te ler mais. Muito interessante seu blog e adorei o nome dele.!

    Meu marido escreveu um livro sobre radio pela Editora SENAC - que conta a história dele com o rádio! Ele é jornalista e vejo que vc é igual!! O livro é Na mesma Sintonia - O rádio na vida e na obra de Orlando Duarte. MUito legal, e alí e fala de coisas parecidas com as que vc narra em seu post e é tudo verdade. Hoje mesmo na RECORD, rádio, eu estarei lá pelas 4hs no debate do programa do Zé Nelo Marques, amamos o rádio! Um grande beijo, sou sua seguidora tb!
    CON
    ON
    N

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  3. Armando,

    Amei seu ponto de vista!
    Não canso de dizer que quanto mais informação tenho, mais me convenço de que nada sei. O excesso de informação não permite o raciocínio, a opinião centrada e formulada.
    Se utilizarmos o jornal como exemplo, principalmente os dominicais, podemos concluir que é quase impossível ler todas as páginas em um único dia. Falo não da leitura artificial mas, da reflexiva, a que permite desenvolvermos nosso lado crítico baseado naquele determinado fato abordado.
    Abraços, Fernanda pautajornalistica.blogspot.com

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